Seu olhar cansado, muitas vezes
apressado não inspirava muito interesse. Um servo. Aquele que serve. Um garçom.
Cabelos brancos, mãos finas e enrugadas. Todas as noites de funcionamento do
restaurante lá estava ele. Seu nome? Pouco importa. Raras pessoas lembram do
nome de um servo. Com música ao vivo, o restaurante fechava uma, duas horas da
manhã. E lá estava ele. Nosso desconhecido.
Mas nem todas as pessoas o veem
assim.
Para o mundo, era mais um
coadjuvante sem maior importância. Para ela, a diferença entre a vida e a
morte. A diferença entre viver e vegetar.
Vitima de uma doença degenerativa,
aquela mulher, companheira de mais de quarenta anos de casamento, há quase
vinte limitava-se a olhar seu marido quando este chegava do trabalho. Nenhuma
palavra. Da Vinci foi feliz ao afirmar que as palavras mais lindas são ditas
pelo silencio de um olhar... Ao chegar, nosso desconhecido tira sua gravata e
vai ate o quarto para visitar sua companheira. Ela o aguarda para a refeição da
noite, uma sopa que ele pacientemente oferece aos lábios muitas vezes beijados.
Ao deitarem-se para dormir, ele cuida de seu corpo com medicamentos para evitar
infecções pela inércia que a obriga a ficar na mesma posição por diversas
horas, todos os dias.
Corpos que antes misturavam-se no
ato de amar agora comunicam-se em uma linguagem que lembra os cuidados de Jesus
com os enfermos. Amor através de cuidados. Suas mãos cansadas pela idade e pelo
trabalho árduo massageiam a pele de sua companheira com a mesma dedicação dos
primeiros dias. Mas agora Eros dá lugar a Ágape.
O que os mantém ainda unidos? O que
é capaz de manter um ser unido a outro quando este já não pode oferecer o calor
do sexo, ou mesmo o dialogo reconfortante? Pressão social? Não no caso dele,
pois os próprios filhos sugeriram que ele a deixasse em um asilo.
Lembrança é a resposta que encontro
para essa questão.
Quando este casal uniu-se seus
corpos e mentes eram jovens, e souberam extrair da vida a mais linda melodia. O
amor saiu do vago mundo dos sonhos para habitar a casa do cotidiano.
Souberam brincar com as cores e
desfrutar dos gostos e perfumes de cada momento. Souberam compartilhar alegrias
e tristezas como poucos.
Verdadeiramente amaram-se e
respeitaram-se em tudo. E cresceram na compreensão do que é o amor ágape. O
amor que é. E uma vez reconhecido este amor, é ele que inunda de ternura os
olhos desse casal.
Durante o casamento de seu filho,
eis que entram na igreja juntos. Ele a conduz em sua cadeira de rodas. Ele tem
orgulho daquela mulher. E as pessoas veem lagrimas que correm dos olhos dela.
Vestida com as roupas amorosamente compradas por ele, naquele momento ela
também é noiva. Ao chegarem no altar, é o Filho de Deus que os recebe, e no
silencio da prece pode-se ouvir as palavras de Jesus "amai-vos uns aos
outros como eu vos amei...filhos meus... Vocês aprenderam a lição. Vêm e desfrutai
da Paz em Meu Reino".
Esta é uma homenagem ao mais belo
amor que tive a honra de conhecer. E também uma prece elevada a Deus por todos
nós, em agradecimento pelo exemplo de que somos capazes desse amor. Nós,
pessoas simples, mas criaturas amadas do Pai, somos capazes de amar assim.
Que esta certeza inunde nossos
corações e alimente nossa esperança no porvir.
Esta é minha oração por mim e por
todos nós.
Amem!
Amém.
A você, Bem Querer, ofereço estas
palavras, para que nunca percamos de vista o desejo da Primeira Hora, cultivado
em nós pelo Criador, na terra fértil de nossos sonhos. Sou grato a Deus por
esse Amor. Sou grato a Deus por você existir. Que tenhamos um dia carregado de esperanças
no porvir, na certeza de que o Pai esta sempre
conosco.
Com amor,
Adriano
Amém, Adriano! ^^
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